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7.3.15

Desconhecido no Brasil, gás para aliviar dor do parto ganha força nos EUA

Bastante comum entre mulheres prestes a dar à luz em países como Suécia, Inglaterra e Canadá. Cada vez mais popular nos Estados Unidos. Praticamente desconhecido no Brasil.

 Esse é o óxido nitroso, mais conhecido como gás hilariante ou gás do riso, que tem como um de seus usos aliviar as dores do parto.
Profissionais da saúde e mães entusiastas relatam os benefícios no uso do gás, como ser uma opção a mais para as mulheres em trabalho de parto, além de ser menos invasivo e com menos riscos que uma anestesia como a peridural.
Em países europeus e no Canadá, o uso do óxido nitroso é tão tradicional que na maioria das maternidades ele já está instalado no quarto. No caso de partos domiciliares, cilindros do gás são levados por parteiras (midwives) para as casas das grávidas.
 Já nos Estados Unidos, após ficar anos "fora de moda" por questões culturais e financeiras, o óxido nitroso agora está voltando a ganhar força – e adeptas.
Até 2012, há registros de que menos de dez maternidades no país usavam o gás, segundo o órgão do governo americano Agency for Healthcare Research and Quality. A demanda pelo método foi crescendo e, no ano seguinte, uma empresa relançou o óxido.
Desde então, mais de 30 hospitais e casas de parto adotaram o sistema. No ano passado, a FDA (agência que regula remédios e alimentos) aprovou a licença de outro fabricante do produto, ampliando ainda mais o mercado.

Mulher no controle
Um dos que passou a oferecer o gás foi o hospital MedStar, em Washington. Segundo a obstetra Melissa Howard Fries, que dirige a maternidade do local, ele começou a ser usado há pouco mais de um ano e tem recebido ótima aprovação.
"O uso do gás é cada vez mais frequente. É menos invasivo, pode ser controlado pela mulher, já que ela é quem determina quando e quanto inalar", diz Melissa à BBC Brasil.
  "De todas as grávidas que usam o gás, cerca de 30% optam em seguida pela peridural."
O número é menor do que a média nacional das americanas que optam por essa anestesia, que, segundo a Sociedade de Anestesistas dos EUA, é de 60%.

Sueca em BH
No Brasil, o uso do gás hilariante para aliviar as contrações do parto ainda é praticamente desconhecido, mas está começando a ser testado em um hospital carioca e em outro em Belo Horizonte.
 "A ideia de usar o óxido nitroso aqui surgiu quando fomos visitar um hospital em Londres, para ver como a obstetrícia era tratada pelo sistema público britânico", conta João Batista de Castro Lima, diretor clínico do Hospital Sofia Feldman, em BH.
"Achamos interessante oferecer mais essa opção porque era a própria mulher que controlava e porque já usamos outros métodos aqui para aliviar a dor, como banheira, chuveiro e bola. Também tivemos uma paciente sueca aqui que nos falou maravilhas do gás, muito utilizado no país dela."
Ele explica que o gás foi usado durante alguns meses, em uma fase de teste, e que a resposta das mulheres foi bastante positiva. "Agora, vamos implementá-lo para valer e estamos em busca de equipamentos mais adequados, porque a máscara que estávamos usando deixava escapar um pouco do gás."

Falta de hábito
Segundo o anestesista Oscar Pires, que é presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, o fato de o gás hilariante ser praticamente desconhecido no país deve-se mais a uma questão cultural, por não haver o hábito, do que uma posição contrária de médicos ou outros profissionais.
 "Não conheço ninguém que seja contra seu uso, até porque diversos estudos mostram que ele traz conforto às pacientes, que não traz problemas clínicos para o bebê e que não aumenta o índice de cesárea ou o do uso de fórceps, o que é ótimo", diz o médico, lembrando de alguns efeitos colaterais que podem ocorrer, como tontura (veja ao lado).
"Outra vantagem é que ele é eliminado rapidamente, em questão de minutos, do organismo, não fica no rim nem no fígado. Ou seja, é uma ótima alternativa para as pacientes que não querem a peridural ou que desejam esperar um pouco mais para tomá-la."
Para o anestesista, é preciso lembrar da importância de ter um profissional cuidando da analgesia da mulher – e outro do parto em si. Para ele, não há impedimento para que outros profissionais, como uma obstetriz, acompanhem o uso do gás.
"Mas há hoje um limbo, já que as faculdades não contam com essa técnica em seus currículos", diz, lembrando que dentistas fazem um curso suplementar para receberem treinamento para usar o óxido nitroso.

Delícia x tontura
Brasileiras que usaram o gás hilariante em seus partos fora do país relataram à BBC Brasil como foi a experiência.
Elas pariram seus filhos em hospitais britânicos e tiveram reações diferentes ao óxido nitroso, que é conhecido por lá também como "gas and air" ou pelo nome de uma das marcas, Entonox, e é usado por mais da metade das grávidas, seja em maternidades ou em partos domiciliares.

Para a fotógrafa e doula Letícia Valverdes, que teve dois de seus três filhos em Bristol (Inglaterra), o gás foi a ajuda que ela precisava.
"No meu primeiro parto (na Inglaterra), eu não queria anestesia peridural, mas queria uma ajudinha. Então, usei o óxido nitroso e foi uma delícia, aliviou muito a dor", conta.
"No meu segundo filho, mal entrei na maternidade e já pedi gas and air. Meu terceiro filho eu tive no Brasil, então já sabia que não poderia contar com o gás. Usei bola e outros métodos para aliviar a dor, mas senti falta do gás. Acho que uma dica é não usá-lo logo de cara, esperar um pouco, porque se não no final o gás pode não dar conta da dor."
Já para a professora Daniela Yallouz Rodbande, mãe de duas filhas, só foi possível perceber o impacto do gás em seu segundo parto: "Eu tive minha primeira filha na Inglaterra e usei o gás lá. Confesso que na época achei que não tinha ajudado muito. Mas no parto da minha segunda filha, já no Brasil, vi que fez muita diferença, sim, que ele tirava o pico da dor. Na hora das contrações, pensava muito em como seria ótimo se tivesse um gás também!"
Já a jornalista Andreia Nobre e a parteira Suzan Correa tiveram tiveram problemas com o uso do gás.
"Aqui na Inglaterra, o gás é uma das primeiras opções de analgesia oferecidas e também muito pedida pelas mulheres. O feedback que recebemos varia muito", conta Suzan.
"Vejo mulheres que usam até o final (do nascimento), não têm quaisquer problemas ou efeitos colaterais e relatam que o Entonox foi essencial. Mas também vejo mulheres que não conseguem tolerar os efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e tonturas. Eu particularmente não gostei, achei que me deixou grogue e sem noção dos acontecimentos, me causou muita náusea e eu parei de usar em menos de uma hora."

Andreia conta que, no primeiro parto, não gostou de usar o gás porque ele lhe deixou zonza. "Uma hora, perguntei para o meu marido que diabo era aquele programa em português na TV. É claro que o programa não era em português, eu que estava com tontura."
Mas relata que, no segundo parto, a experiência foi melhor: "Eu usei corretamente dessa vez. Ou seja, para me ajudar a respirar mais profundamente e aliviar a dor – e me ajudou muito. Apenas depois de algumas horas de trabalho de parto, pedi uma peridural."

* Entrevista sobre o uso do gás em Washington realizada durante uma viagem de estudos promovida pelo International Center for Journalists (ICFJ).

 BBC
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