Situação, mais grave no NE, também atinge Centro-Oeste, Norte e Sudeste.
No RN, mais de 90% dos municípios têm problema de abastecimento.
Barragem do Jucazinho, que entrou em colapso (Foto: Reprodução/TV Asa Branca) |
O levantamento leva em conta os municípios que decretaram emergência e, posteriormente, tiveram tal situação reconhecida pelos governos estaduais, o que garante o acesso a recursos desses entes públicos.
O Nordeste é a região mais afetada. Lá, todos os estados têm cidades em emergência. A situação, entretanto, também atinge o Centro-Oeste, o Norte e o Sudeste.
Entre as cidades afetadas pela seca estão Rio Branco, onde o Rio Acre chegou a atingir o menor nível da história em 17 de setembro; Vitória, que enfrenta racionamento desde o dia 22 – o município, entretanto, não está na lista dos que tiveram emergência reconhecida pelo governo; e Brasília, onde algumas regiões chegaram a sofrer racionamento de 23 a 25 de setembro. O governo distrital prevê aumentar o valor das contas de água em 20% caso o nível dos dois principais reservatórios caia a 25%.
Além de problemas de abastecimento, a seca tem causado prejuízos à economia. Em Mato Grosso, a produtividade da safra de milho de 2016 caiu 32% em relação à safra 2014/2015, o que resulta numa perda de R$ 32 bilhões, segundo estimativas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuário (Imea). No Sergipe, a perda de safra de milho atinge 80%. No Espírito Santo, a produção de café robusta caiu 40% em 2016 na comparação com o pico de 2014.
Em Goiás, embora não haja decretos de situação de emergência por conta de seca ou estiagem, o governo contabiliza 14 cidades que podem enfrentar problemas de abastecimento. Dentre elas está Goiânia, em razão da diminuição do nível do manancial que abastece a capital.
No Amazonas, o governo do estado avalia pedidos de reconhecimento de situação de emergência já decretadas por municípios. A navegação em trechos do Rio Madeira entre Amazonas e Roraima está restrita desde julho.
Previsão
A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para os próximos três meses -- outubro, novembro e dezembro (veja o mapa abaixo) --, mostra que as chuvas devem se comportar de forma variada dependendo da região do país.
Por exemplo, em alguns estados do Nordeste, como Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, são esperadas chuvas acima do normal. A região central da Bahia, no entanto, deve ter menos precipitação que o normal.
De acordo com a meteorologista Odete Chiesa, do Inmet, o Nordeste sofre com a seca há pelo menos quatro ou cinco anos. “Ano passado isso ocorreu bastante com relação ao El Niño, choveu muito no sul e pouco na parte mais ao norte do país. Este ano, isso se deve à ausência de passagem de frente fria, e a região Amazônica também está bem mais seca, demorou mais para ter as primeiras chuvas”.
Veja a situação nos estados com municípios em situação de emergência.
Acre
A capital, Rio Branco, está entre os sete municípios em situação de emergência por conta da estiagem. O rio Acre, que abastece a cidade, chegou a atingir o menor nível da história em 17 de setembro, 1,30 m. Nesta terça (4), marcava 2,1 m. Para que a cidade tenha abastecimento estável, é necessário que o rio chegue a pelo menos 3 m. Em Cruzeiro do Sul, o rio Juruá passa pela pior seca dos últimos 5 anos.
Em Brasiléia, poços artesianos secaram e cerca de 80 famílias estão sendo abastecidas com carros-pipa. Em Acrelândia, cidade de 14 mil habitantes, o nível do reservatório chegou a cair abaixo de 2,8 m, algo que não acontecia há 5 anos. O Departamento de Pavimentação e Saneamento (Depasa) diz que o abastecimento está normalizado, mas em alguns locais ainda é necessário uso de carro-pipa.
Rio Juruá, em Cruzeiro do Sul, passa pela pior seca dos últimos cinco anos (Foto: Anny Barbosa/G1) |
Desde agosto, 40 dos 102 municípios do estado estão em emergência por conta da seca, a maioria no sertão alagoano. Na semana passada, o governo federal reconheceu a situação de emergência em todos eles.
Bahia
A represa de Sobradinho, maior reservatório de água do Nordeste, enfrenta o pior cenário em 85 anos, e pode zerar até o fim deste ano, segundo o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho. Atualmente, o índice está em 10,35%.
O reservatório é o principal gerador de energia elétrica do Nordeste e, para evitar o agravamento da situação, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) pretende reduzir o volume de água retirado do local. Na segunda-feira (26), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emitiu uma autorização de redução de 800 m³ por segundo para 700 m³ por segundo.
Além disso, dois outros importantes reservatórios estão com níveis baixos: a barragem de Água Fria II, que fornece água para o município de Vitória da Conquista; e a de Iguape, que atende Ilhéus. Nas duas cidades, o abastecimento de água funciona em esquema de rodízio desde o primeiro semestre deste ano.
Ceará
O volume de água armazenado nos principais reservatórios do estado está em 8,8%, o pior nível em mais de 20 anos. O reservatório do Castanhão, o principal do estado e que abastece a Grande Fortaleza, está com 6,22%. Das 184 cidades do estado, 126 estão em situação de emergência por conta da seca ou da estiagem, segundo o governo estadual. A situação é pior no interior do estado e na zona rural.
Açude Castanhão está com menor nível desde que foi inaugurado (Foto: DNCS/Divulgação) |
O Distrito Federal está em situação crítica desde 16 de agosto, quando os reservatórios de Descoberto e Santa Maria caíram abaixo de 40% – situação inédita nos últimos 30 anos. Na terça-feira (4), o Santa Maria estava com cerca de 46,89%, e Descoberto, com 32%. O governo do Distrito Federal informou que as contas de água vão subir 20% se as cotas chegarem a 25%.
Entre 23 e 25 de setembro, algumas regiões do distrito chegaram a sofrer racionamento de água. Estão proibidas as irrigações de jardins de postos de gasolina e uso de máquinas de limpeza de para-brisas.
A área urbana do DF está em estado de alerta. A situação de emergência foi decretada em 7 de junho para as regiões rurais, que são abastecidas por córregos.
Espírito Santo
O estado enfrenta a pior seca em 80 anos. Vinte das 78 cidades capixabas estão em situação de emergência e ao menos 14 estão fazendo racionamento de água. A Grande Vitória é abastecida em esquema de rodízio desde 22 de setembro.
Maranhão
O estado tem 35 estados em situação de emergência desde julho.
Mato Grosso
A seca é apontada como o principal motivo para a queda na safra de milho de 2015-2016, que deve ter um prejuízo de cerca de R$ 2,4 bilhões. Oito dos 141 municípios do estado estão em emergência. Em São Félix do Araguaia, que ainda não integra a lista, seis assentamentos estão sem água.
Minas Gerais
Dos 853 municípios mineiros, 138 estão em situação de emergência, de acordo com o governo estadual. Em Montes Claros, o rodízio em vigor desde 2015 não tem data para terminar. Em Grão Mogol, o nível baixo dos reservatórios mantém o município em abastecimento por meio de caminhões-pipa, como vem ocorrendo nos últimos 15 anos, na zona rural. Viçosa, embora não esteja em situação de emergência, enfrenta racionamento desde 17 de maio.
Paraíba
Mais da metade dos municípios do estado – 170 dos 223 – estão em situação de emergência. Dos 123 açudes monitorados pela Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), 20 estão com menos de 10% da capacidade, 30 estão com menos de 5% e 24, completamente secos.
No agreste, o reservatório de Epitácio Pessoa, conhecido como açude de Boqueirão, passa pela pior situação da história e diversas cidades enfrentam um severo racionamento de água desde dezembro de 2014. Algumas cidades, como Lagoa Seca, chegam a passar 15 dias sem receber água nas torneiras.
Pernambuco
Assim como na Paraíba, mais da metade dos municípios pernambucanos estão em situação de emergência. São 125 dos 185. Mais da metade dos 87 reservatórios monitorados pela Agência Pernambucana de Águas e Clima estão em colapso, a maioria deles no sertão.
Nestes últimos 5 anos, as médias anuais de chuvas foram negativas em todas as regiões e, por isto, os níveis dos reservatórios foram reduzindo, sistematicamente ano após ano, até chegar a situação de colapso, segundo a Apac.
Dentre os reservatórios com pouca ou nenhuma água estão o de Barra do Juá, que fica em Floresta, e o do Chapéu, em Parnamirim. No agreste, o Jucazinho entrou em colapso em 26 de setembro, prejudicando o abastecimento de 200 mil pessoas.
Piauí
Das 224 cidades do estado, 128 estão em situação de emergência. A maior parte está situada na região do semiárido, onde os efeitos da seca são ainda mais severos. Entre os municípios nessa situação estão cidades polo como São Raimundo Nonato, Valença, Paulistana e São João do Piauí.
Praticamente todo o estado está em situação de seca extrema, que é um nível antes do grave na classificação usada pela Agência Nacional de Águas (ANA). Dois açudes piauienses estão no volume morto e um, o de Fátima, em Picos, é considerado seco.
Rio Grande do Norte
Mais de 90% dos municípios potiguares estão em situação de emergência. Em 23 de setembro, o governo estadual publicou o 7º decreto consecutivo em decorrência da seca severa. Um relatório da companhia de águas e esgoto do estado (Caern) aponta que 14 cidades estão em colapso, e 79, com fornecimento de água sendo feito por rodízio.
Dos 47 reservatórios com mais de 5 milhões de metros cúbicos de água, 8 estão secos, 21 estão em volume morto e outros cinco devem entrar nessa situação até o fim do ano, de acordo com um relatório do Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (Igarn).
O estado enfrenta o quinto ano consecutivo da pior seca da história.
Sergipe
Dos 75 municípios do estado, 17 estão em situação de emergência, de acoro com o governo do estado. A falta de chuvas tem provocado queda na produção de milho no Alto Sertão de Sergipe onde os produtores já contabilizam prejuízo de 80% da safra, mais 60% de perdas no feijão e 40% de queda na produção de leite.
Tocantins
O estado tem 22 de seus 139 municípios em situação de emergência por conta de seca ou estiagem. Oito solicitaram auxílio federal. "Os que não pediram têm feito a distribuição de água para consumo humano com recursos próprios. A Defesa Civil tem acompanhado os municípios para ver o que eles estão precisando”, informou o diretor executivo da Defesa Civil estadual, Diogenes Madeira.