5 coisas para amar e 5 para odiar em "Harry Potter e a Criança Amaldiçoada"
Não
são 19 anos, como dizem as propagandas (afinal, "Harry Potter e as
Relíquias da Morte" se passa em 1998, mas foi publicado em 2007), mas já
fazia um bom tempo que os fãs de Harry Potter não tinham uma nova
história para devorar, e eles lotaram as livrarias mundo afora para
receber o lançamento de "A Criança Amaldiçoada" (que chegou ao Brasil na
segunda-feira, 31).
Mas, passada a euforia inicial, a reação à
oitava história da série foi, digamos, agridoce. Muita gente se
contentou apenas com o fato de ter um novo livro, mas os fãs mais
exigentes terminaram a leitura um pouco decepcionados com a publicação,
que na verdade é a versão em livro da peça teatral que está em cartaz em
Londres.
Por aqui não foi diferente. Sem conseguir decidir se
amei ou odiei a "A Criança Amaldiçoada", conto o que dá para amar e o
que não tem salvação no livro, e deixo para você tirar suas próprias
conclusões.
ATENÇÃO, SPOILERS! ESTE TEXTO REVELA
DETALHES MENORES SOBRE "HARRY POTTER E A CRIANÇA AMALDIÇOADA". SE VOCÊ
NÃO QUER SABER NADA DA TRAMA, NÃO CONTINUE A LEITURA.
5 coisas para amar em "A Criança Amaldiçoada"
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1. Eles voltaram!
Para quem cresceu acompanhando as histórias do trio formado pelo
bruxinho órfão e seus inseparáveis amigos Hermione e Rony, uma nova
história é como reencontrar velhos amigos que não víamos há tempos, o
que já é motivo suficiente para comemorar. Mesmo que a nova história
seja o roteiro de uma peça teatral, e não propriamente um livro inédito.
Manuel Harlan/Divulgação
2. Ainda são gente como a gente
Se você, como eu, era adolescente quando os livros saíram, hoje está
perto ou já passou dos 30, como Harry, Rony e Hermione em "A Criança
Amaldiçoada" --no começo do livro, ficamos sabendo que Harry tem 37.
Isso significa que, apesar da magia, os dramas deles continuam próximos
dos de qualquer pessoa da mesma faixa etária: o relacionamento com os
filhos, o trabalho, as responsabilidades da vida adulta, o casamento...
Manuel Harlan/Divulgação
3. E evoluíram
Hermione --que, vamos combinar, sempre foi a melhor personagem-
conquistou o lugar que sempre mereceu: o de Ministra da Magia, a maior
autoridade mágica do Reino Unido, e ela parece estar fazendo um ótimo
trabalho. Fora que é uma mensagem e tanto ter uma mulher, e filha de
humanos comuns, ocupando uma posição importantíssima no mundo bruxo.
Harry também evoluiu, ocupa o cargo de diretor de Execução das Leis da
Magia, mas tem problemas com a paternidade --o que era de se esperar
para alguém que nunca teve pais e perdeu quase todos que tentaram sem
uma figura paterna pra ele. O único que ficou pra trás é Rony, mas isso é
assunto pra segunda parte desta lista.
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4. Tem pra todas as idades
Mas nem só de "velhos" é feita a nova história: os verdadeiros
protagonistas são Alvo Severo Potter, o filho mais novo de Harry, e
Escórpio Malfoy, filho de Draco, o antigo desafeto do trio de amigos nos
livros originais. E são esses dois que garantem que novos leitores se
identifiquem com a história, que segue o mesmo molde das aventuras que
Harry, Hermione e Rony viveram juntos quando estavam em Hogwarts. Eles
também são bem diferentes de seus pais, e isso é bom.
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5. Uma reunião aguardada
Não faria sentido ressuscitar qualquer personagem, mas mesmo assim "A
Criança Amaldiçoada" nos presenteia com um reencontro muito esperado:
com Alvo Dumbledore, o diretor de Hogwarts que conduziu Harry para seu
destino de salvador do mundo bruxo, mas pereceu na guerra. Na verdade, o
reencontro é com seu retrato, mas mesmo assim Harry tem a chance de
ouvir um pedido de desculpas pelos erros que Dumbledore cometeu, e uma
confissão de que o diretor tomou todas as suas decisões por amor a
Harry, mesmo quando estava errado.
E 5 coisas para odiar
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1. É uma peça --e não foi escrita por J.K. Rowling
Sim, "A Criança Amaldiçoada" não é um romance, mas o roteiro de um
espetáculo teatral escrito pelo dramaturgo Jack Thorne e baseado em uma
ideia dele, de J.K. Rowling e do diretor da peça, John Tiffany. O fato
de o livro não ter saído direto dos dedos e da cabeça da escritora pode
explicar algumas incoerências dos personagens, e o formato de roteiro
significa muito diálogo e pouca ação. Então, mesmo que as críticas digam
que a montagem em si é bem boa ao vivo, a leitura pode ser um pouco
chata pra quem não está acostumado com textos teatrais.
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2. Vários livros em um
Ao final da história, a sensação é de que espremeram vários livros em
um (não por acaso, a peça tem duas partes e dura quase seis horas, no
total), com viagens ao passado que acabam provocando grandes mudanças no
futuro, e todas as tentativas para colocar as coisas de volta no lugar.
Ou seja, tem coisa demais acontecendo ali, e nem sempre fica bem
explicado. Inclusive a revelação da identidade do(a) grande vilão(ã) da
história e sua ligação com Voldemort (o "Lorde das Trevas", vocês sabem,
né?), que é explicada por uma profecia que nunca tinha aparecido no
universo mágico criado por Rowling. Ah, e o mal também tem que ser
derrotado em 300 páginas, coisa que nos livros originais levou milhares
de páginas.
Manuel Harlam/Divulgação
3. Às vezes, não faz sentido
O acontecimento que acaba desencadeando toda a ação também é difícil de
engolir: a gente sabe que Alvo tem problemas para se relacionar com o
pai e sua fama, mas não faz muito sentido ele decidir voltar no tempo
para salvar Cedrico Diggory (o garoto que vence o Torneio Tribuxo com
Harry em "O Cálice de Fogo" e acaba morto durante o retorno de
Voldemort) após escutar escondido UMA conversa de Harry com o pai de
Cedrico. Considerando a relação ruim de Alvo com seu próprio pai, é
difícil comprar até a ideia de que ele soubesse quanto essa morte marcou
Harry. E todo o resto acontece por conta dessa decisão mal explicada.
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4. Rony é um bobão
Dos três amigos, Rony é o único que parece não ter muita serventia para
a história. É claro que Hermione e até mesmo Harry são coadjuvantes,
mas Rony virou apenas um alívio cômico, meio no estilo "tiozão do pavê".
Ele mais parece uma versão mais velha dos gêmeos Fred e Jorge, seus
irmãos mais velhos, pregando peças nos outros o tempo todo, e inclusive
administra a Gemialidades Weasley, loja fundada por eles. Talvez a morte
de Fred tenha feito Rony se aproximar mais de Jorge, ou algo assim, mas
isso não é explicado em "A Criança Amaldiçoada".
Manuel Harlan/Divulgação
5. Hermione recalcada
Eu já disse que a trama envolve viagens no tempo, né? Nessas viagens,
Alvo e Escórpio acabam alterando o passado e criando realidades
alternativas. Em uma delas, Hermione é professora de Defesa contra as
Artes das Trevas em Hogwarts, e se tornou uma pessoa amargurada porque
nunca chegou a se casar com Rony. Ok, a gente sempre torceu por esse
casal, mas já é um pouco demais (e até machista!) achar que uma menina
brilhante e corajosa como a Hermione se tornaria eternamente infeliz
porque as coisas não deram certo entre eles. Aliás, toda a trama é um
pouco injusta com as mulheres, que na maior parte do tempo servem apenas
de "acessórios".