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Perto da virada do ano outras ofertas milionárias da China
surpreenderam o mundo do futebol. O campeão mundial alemão Lukas
Podolski recebeu propostas altas de dois clubes da China. O astro do
futebol argentino Carlos Tevez teve seu passe comprado pela modesta
quantia de quase 11 milhões de dólares pelo Shanghai Shenhua, mas deverá
ganhar cerca de 38 milhões de euros por ano. No fim do ano, o agente do
astro Cristiano Ronaldo, Jorge Mendes, disse que descartou uma oferta
de 300 milhões de euros de um time da China. Segundo ele, Ronaldo iria
ganhar mais em 100 milhões de euros por ano.
Maior público da Ásia
Os clubes chineses gastaram um total de cerca de 470 milhões de euros
em transferências no ano passado, tanto quanto em 2014 e 2015 juntos. Atualmente, há 95 jogadores de 32 países na liga de futebol profissional
chinesa.
O mercado do futebol e a torcida na China são grandes. A média de
público nos estádios é de 24 mil, liderança folgada na Ásia. Só as
transmissões ao vivo da Chinese Super League (CSL), renderam em 2016
cerca de 1,2 bilhão de euros.
O consenso geral entre agentes e consultores é que a China é um bom
lugar para se ganhar muito dinheiro. Mas o futebol no país não estaria
se beneficiando dessa moda. "Muitos treinadores e jogadores estrangeiros
recebem propostas para fazer uma viagem de um ano à China", critica Wu
Jingui, diretor esportivo do Shanghai SIPG. "Eles fecham um contrato de
três anos, mas jogam apenas um ano, esperam pela transferência e
continuam embolsando o salário chinês."
"Jogadores estrangeiros só querem ganhar dinheiro quando aceitam o
chamado de um clube chinês", diz Shen Lei, jornalista esportivo do
jornal Wenhui, de Xangai. "Quando os jogadores talentosos da América do
Sul vão para a Europa, eles ganham bem e podem melhorar seu desempenho
atlético. Quando não acreditam mais no seu desenvolvimento esportivo, só
passa a valer o argumento do dinheiro e, então, o caminho leva à
China."
Negócio deficitário
Segundo Shen, os clubes investem em jogadores de ponta,
independentemente do preço de compra. A maioria dos clubes na China é de
propriedade de grandes corporações. "Um clube precisa de pelo menos 30
milhões por ano. Os melhores, até mesmo 60 a 70 milhões. No entanto,
eles só faturam 30 milhões de euros. Por isso, todos os clubes estão no
vermelho."
Mas as empresas bancam as transações deficitárias com intuito de ganhar
capital político. O homem mais poderoso da China, Xi Jinping, é fã de
futebol. Embora o público não saiba por qual equipe ele torce, as
autoridades esportivas fazem todo o possível para dar ao presidente do
país a impressão de que estão fazendo tudo para tornar o futebol mais
popular.
Mas, estatisticamente, a China é medíocre em se tratando de futebol
masculino. No ranking da Fifa, o país está atualmente em posição 82 de
205, ainda atrás de países como Líbia, Burkina Faso e Trinidad e Tobago.
Nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, as chances de China são
ruins. A equipe não foi capaz de ganhar um único jogo, tendo perdido em
casa contra a Síria, por 1 a 0, e contra o Uzbequistão, por 2 a 0. Nos
últimos quatro de cinco jogos, a equipe não marcou um gol sequer. A
China ocupa o último lugar de seu grupo e só tem chance teórica.
Analistas culpam estrangeiros
Comentadores esportivos culpam a forte presença de jogadores
estrangeiros pelo fracasso da seleção nacional. "Clubes com jogadores
estrangeiros de ponta fazem sucesso", reconhece Ji Yuyang, editor no
jornal esportivo de Xangai Oriental Sport. "Mas o futebol profissional
quer o sucesso rápido, em vez de investir nas próximas gerações",
lamenta.
Na temporada passada, 70% dos gols na CSL foram feitos por jogadores
estrangeiros, que, em chinês, são chamados literalmente de "jogadores de
apoio do exterior". Entre os 10 maiores artilheiros há apenas um
chinês.
Também os milhões de torcedores na China preferem assistir televisão no
conforto da sala de estar climatizada, em vez de ir jogar bola com seus
próprios filhos. "Entre um e dois milhões de jogadores infantis, talvez
saia um Messi ou um Cristiano Ronaldo. Mas dos entre mil e dois mil
jogadores chineses, jamais sairá um craque", reclama Shen. "A maioria
dos torcedores chineses jamais tocou em uma bola em sua vida. A China só
produziu espectadores de futebol e comentaristas. Não importa o quão
alto seja o incentivo financeiro ou quanto o meio político venha a
investir. Tudo isso não vai mudar a situação, a China continuará sendo
um anão do futebol."
Deutsche Welle