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10.2.23

Mortes no terremoto da Turquia e da Síria passam de 22 mil, e sobreviventes são retirados com vida mais de cem horas sob escombros

 Equipes de resgate avançam nas buscas, enquanto moradores na Turquia se queixam da falta de estrutura dos edifícios, muitos deles novos.

Cem horas de angústia e desespero, centenas de toneladas de escombros, um número de vítimas cada vez maior, resgates emocionantes e a dificuldade para a chegada de ajuda.

É com este balanço que o sul da Turquia e o norte da Síria fecham uma das piores semanas na história na região, após o terremoto de magnitude 7,8 que atingiu o local na segunda-feira (6).

O número oficial de mortos por conta do tremor passa de 22 mil - a contagem quadruplicou desde segunda-feira (6), e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que pode chegar a 40 mil.

O avanço das mortes tornou este terremoto o pior e mais mortal dos últimos 80 anos - superando outro tremor em território turco em 1999, que teve 17 mil mortos - e o sétimo mais mortal do mundo (veja aqui a lista completa dos últimos 20 anos).

Até agora, estas são as principais informações sobre o terremoto:

  • Há 22.191 mortes confirmadas - 18,991 na Turquia e mais de 3.200 na Síria - levando em conta os balanços fornecidos pelo governo nacional e por grupos de resgate que atuam no noroeste do país, controlado por jihadistas e rebeldes.
  • O terremoto ocorreu na madrugada de segunda-feira (6) no povoado de Kahramanmaras, no sudoeste da Turquia, perto da fronteira com a Síria.
  • Cerca de 1.500 réplicas foram registradas após o primeiro tremor.
  • Milhares ainda estão desaparecidos, e mais de 50 mil ficaram feridos.
  • Mais de 70 países enviaram ajuda humanitária e equipes de resgate, que já chegaram aos dois países - a primeira equipe do Brasil embarcou nesta quinta.
  • O governo turco declarou estado de emergência por três meses em dez cidades.
  • O tremor durou cerca de um minuto e meio e teve um raio de alcance de 250 quilômetros, atingindo centenas de municípios.
  • O epicentro ocorreu a 10 quilômetros da superfície - profundidade considerada muito baixa e que explica, em parte, os efeitos devastadores.
  • O tremor também foi sentido em Israel, no Iraque, no Chipre e no Líbano. Não há registro de vítimas nesses países.
  • O raio de alcance do tremor foi de 250 quilômetros e, portanto, foi fortemente sentido em centenas de municípios e cidades dos dois países.
  • Foi o pior terremoto desde 1939 na região, muito propensa ao fenômeno por ser uma área de encontro de placas tectônicas.
  • Mais de 70 mil pessoas ficaram feridas, e milhares ainda estão desaparecidas.

Menina em local de prédio que desabou após terremoto na Turquia — Foto: REUTERS/Dilara Senkaya

Também nesta sexta-feira (10), a ajuda humanitária começou a chegar na Síria - a região afetada pelo terremoto nesse país é controlada por rebeldes, rivais ao presidente do país, Bashar al-Assad, que é quem oficialmente recebe toda a ajuda enviada por outros países.

Bashar al-Assad, que visitou nesta sexta à região, é acusado de não estar distribuindo a ajuda por conta da rivalidade.

Por enquanto, o socorro na parte síria afetada pelo terremoto é feita quase toda por cerca de 3.000 Capacetes Brancos, o grupo de voluntários que atuam no país há anos.

Para acelerar o socorro à Síria, a ONU abriu nesta sexta-feira um corredor humanitário entre o sul da Turquia e o norte sírio. Ancara afirmou também estar estudando abrir as fronteiras na região para facilitar a entrada de ajuda no país vizinho. A OMS disse nesta sexta que os recursos de resgate e manutenção das operações na Síria estão perto de terminar.

Essa ajuda é crucial, também para sobreviventes e pessoas que tiveram suas casas destruídas - a Turquia estima em mais de 70 mil esses afetados só na Turquia. Eles passaram a noite sob temperaturas negativas e sem aquecimento, dependendo apenas da alimentação e mantimentos da ajuda internacional.

Histórias emocionantes do resgate

Apesar de todas as dificuldades, as equipes de busca têm conseguido fazer resgates bem-sucedidos e emocionantes, superando expectativas.

Nesta sexta, uma mulher e seu bebê de apenas dez dias foram resgatados com vida após ficarem mais de cem horas sob os escombros, segundo o governo turco.

Ao longo da semana, o trabalho das equipes de resgate também gerou histórias de superação e outras devastadoras, entre elas:

  • Um pai, sentado em uma cadeira, segurando a mãe da filha adolescente, que não resistiu aos ferimentos e morreu sob os escombros.
  • Uma família inteira salva com vida diante dos aplausos e da vibração de quem acompanhava o resgate.
  • Uma bebê nascida sob os escombros, retirada com cordão umbilical de lá, ainda com vida mas já sem sua mãe e seu pai, que morreram no local.

Frio

Resgate de vítimas do terremoto em Iskenderun, na Turquia, na noite desta segunda-feira (6). — Foto: Umit Bektas/Reuters

O frio extremo e a quantidade de escombros - as áreas atingidas tinham muitos edifícios - complicam os trabalhos.

O vice-presidente turco, Fuat Oktay, reconheceu esta semana que as condições climáticas severas dificultaram os resgates e o envio de ajuda às regiões afetadas.

Oktay disse que, diante das dificuldades, apenas veículos de resgate e ajuda estão autorizados a entrar ou sair de Hatay, Kahramanmaras e Adiyaman, três das províncias mais afetadas.

As operações de resgate estão se concentrando nessas três províncias e em Malatya.

Conflitos na Síria

Na Síria, os tremores abalaram principalmente o noroeste do país, que é controlado por jihadistas e rebeldes, o que dificulta o socorro às vítimas. Os países que não têm relação com o governo sírio estão enviando doações diretamente a ONGs para ajudar os impactados pelo terremoto.

Nesta sexta, a Organização das Nações Unidas (ONU) disse ter conseguido enviar seis funcionários à região, que coordenam trabalhos.

Brasileiros na Síria: 'tremor só aumentava'

Os terremotos que atingiram a Síria e a Turquia nesta segunda-feira (6) deixaram brasileiros desabrigados em território turco, de acordo com o conselheiro da Embaixada do Brasil na Turquia Marcelo Viegas. Não há informações sobre brasileiros mortos ou feridos pelos tremores.

Os brasileiros Lucas Saad e Gabriela Waked estavam em Alepo, na Síria, durante o terremoto. Os dois são produtores de conteúdo e estão fazendo uma viagem longa — Gabriela está viajando há dez meses, Lucas está dando uma volta ao mundo.

Eles contaram que estavam dormindo no quarto de um hotel em Alepo quando foram acordados pelo tremor.

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