A pesquisa foi realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
A pesquisa foi realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que aponta para um agravamento de todas as formas de violência contra a mulher no país.
O levantamento, feito entre os dias 9 e 13 de janeiro deste ano, ouviu pessoas acima de 16 anos em 126 cidades de todas as regiões do Brasil. Foram 2.017 entrevistados, dos quais 1.042 são mulheres.
A pesquisa mostrou que a mulher divorciada ou separada apresentou, no ano passado, níveis mais elevados de vitimização (41,3%) do que casadas (17%), viúvas (24,6%) e solteiras (37,3%).
Além disso, pela primeira vez na série histórica -que mapeia os níveis de violência contra mulher desde 2017-, o ex-cônjuge é o principal agressor (31,3%). Em segundo lugar vem o atual companheiro (26,7%), seguido por pai ou mãe (8,4%).
"Pensamos que a separação é sinônimo de fim da violência, mas os dados mostram que, para essas mulheres, há graus mais altos de vitimização. Sabemos que o fim do relacionamento é um fato de risco para o feminicídio ou para uma forma de violência mais grave", diz Isabela Sobral, coordenadora do Núcleo de Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A pesquisa calculou pela primeira vez a média de agressões sofridas por ano. As mulheres casadas, viúvas ou solteiras sofrem, em média, três agressões por ano. Entre as divorciadas o número triplica e chega a nove agressões por ano, me média.
"Esses homens inconformados com o fim do relacionamento conseguem, muitas vezes, ainda acessar esse local. E, nesse caso, podem ser violências mais intensas porque a mulher quebrou aquela relação estabelecida entre eles, que o marido esperava que fosse seguida e, por isso, pode ser mais frequente", diz Sobral.
A coordenadora cita que metade das mulheres agredidas vive no interior e outra metade, nas capitais, ou seja, a violência contra a população feminina acontece em todos os espaços. Ela lembra, porém, que os serviços de apoio e atendimento voltados às mulheres estão concentrados nas capitais e regiões metropolitanas.
"É muito importante que as delegacias tenham policiais capacitados para atender essa mulher [agredida]. É preciso um protocolo específico para atendê-la", afirma a coordenadora, que cita ainda a necessidade de fortalecer a rede de assistência social e saúde e a importância de que atuem com estrutura da segurança pública.
Outra questão que a pesquisa aponta é que a mulher que integra a PEA (População Economicamente Ativa) -que tem um emprego ou procura um trabalho- sofre mais agressão (32%) do que aquela que não está na PEA (20,8%).
O resultado vai ao encontro de uma pesquisa de 2019 intitulada Participação no Mercado de Trabalho e Violência Doméstica Contra as Mulheres no Brasil, que mostrou que as mulheres separadas que participavam do mercado de trabalho tinham maior chance de sofrer violência doméstica. O levantamento foi feito a partir dos dados de 2009 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).
"Muitas vezes, o que acontece é que a mulher consegue o próprio dinheiro e, assim, consegue sair do relacionamento", afirma Sobral. A coordenadora diz ainda que, para que as mulheres consigam interromper o ciclo de violência, é essencial que o estado forneça todo apoio necessário.
Outro ponto levantado pela pesquisa diz respeito à escolaridade. Mulheres que completaram apenas o ensino fundamental são mais vulneráveis do que as que fizeram ensino superior. Quase metade das mulheres (49%) que cursaram apenas o fundamental foram vítimas de violência por parte de parceiro ao longo da vida. Isso não significa, porém, que os números caiam drasticamente entre mulheres com ensino médio (39,7%) e superior (43%).
As mulheres menos escolarizadas são, ainda, com mais frequência submetidas a violações de direitos como ser impedida de se comunicar com familiares ou amigos (18,7%).
Além disso, mulheres com filhos também estão mais propensas a sofrer algum tipo de violência. Entre as que têm filhos, 44% afirmam que já passaram por alguma agressão na vida. Entre as que não têm filhos, o percentual é de 40%.
Para Juliana Brandão, pesquisadora sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o números mostram que vivemos em uma sociedade que naturalizada a cultura da violência e os padrões do patriarcado.
"O fato de ela ser mãe acaba sendo mais um condutor da vitimização. É como se, por conta desse laço, que não é mais de afeto, mas biológico, o homem se achasse numa posição de poder reivindicar qualquer tipo de atuação dessa mulher", afirma Brandão.
POR FOLHAPRESS
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