Para Carneiro Leão, a instalação de telas representa “uma proteção ilusória”.
Apresentada há 18 anos, a proposta de instalar telas de proteção contra tubarões no litoral pernambucano não consenso na comunidade científica. O reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Marcelo Carneiro Leão, se declarou contrário à ideia, após reunião na sede do governo para discutir a retomada das pesquisas sobre a presença dos tubarões na costa do Grande Recife.
A retomada da proposta foi defendida pela ONG Instituto Praia Segura depois que dois adolescentes sofreram ataques no domingo (5) e na segunda (6), na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.
“Nós somos contra enquanto universidade. Já debatemos muito isso. Trouxemos especialistas da Austrália e da África do Sul e eles também são contra; porque isso não garante 100% de segurança, causa dano não somente aos tubarões, mas a todo o ecossistema”, disse.
O posicionamento foi feito após o reitor se reunir com a governadora Raquel Lyra (PSDB), com quem assinou, na terça (7), um termo de cooperação técnica e financeira para a realização de pesquisas e ações de monitoramento na costa pernambucana.
Para Carneiro Leão, a instalação de telas representa “uma proteção ilusória”.
“Às vezes, pode algum governo se encantar com essa medida porque tira um pouco da sua responsabilidade. Mas quem trabalha com ciência - e eu posso dizer que a Austrália e a África do Sul têm muita experiência nisso - é totalmente contra esse processo”, ressaltou.
Reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Marcelo Carneiro Leão — Foto: Reprodução/TV Globo
O que diz o governo
Procurada pelo g1, a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) disse que o assunto deve ser discutido pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarão (Cemit) em reunião marcada para quinta-feira (9).
Segundo o governo, o colegiado, instituído em 2004, passa por uma recomposição, deixando de se vincular à Secretaria de Defesa Social (SDS) para ser subordinado à Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha.
O comitê deverá incorporar, novamente, o Núcleo de Pesquisa Fábio Hazin, da UFRPE, que não fazia parte do colegiado desde 2015. Os ministérios da Pesca e da Ciência, Tecnologia e Inovação também deverão integrar a nova composição do Cemit.
O projeto
Segundo a organização não-governamental (ONG) Instituto Praia Segura, a ideia de instalar telas de proteção contra tubarões é discutida desde 2005 pelas autoridades que integram o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit).
Nos últimos 15 dias, Pernambuco registrou três incidentes: o surfista André Luiz, de 32 anos, foi atacado em Olinda, um adolescente de 14 anos teve a perna direita amputada e Kaylane Timóteo Freitas, de 15 anos, perdeu parte do braço esquerdo. Os dois últimos casos foram em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.
De acordo com o Instituto Praia Segura, as telas passaram por análise da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e foram aprovadas. O projeto, no entanto, foi suspenso em 2013, quando faltava a realização do último teste.
"As telas de exclusão não são para aprisionar tubarões e sim para criar uma área onde possa realizar campeonatos esportivos ou até mesmo um banho de mar com segurança", afirmou Sérgio Murilo, presidente do Instituto Praia Segura, em entrevista ao g1.
"A gente acredita que essa dragagem pode ter mexido um pouco com o ecossistema marinho da região."
O Instituto Praia Segura afirma que não chegou a enviar novamente o projeto ao governo, mas que poderá apresentar os modelos das telas de exclusão, assim como todos os estudos realizados.
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