Então ministro da Justiça pediu a três delegados da PF na Bahia que fizessem parte da operação no segundo turno das eleições contra eleitores petistas, sem sucesso
Os delegados de Polícia Federal Leandro Almada, Flávio Albergaria Silva e Marcelo Werner são os delegados que receberam o então ministro da Justiça Anderson Torres na véspera do segundo turno das eleições do ano passado na Superintendência da PF na Bahia.
Torres, conforme apurou a CNN e documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) comprovam, usou jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir do Rio de Janeiro à Bahia e pedir apoio da PF nos bloqueios que a Polícia Rodoviária Federal faria no segundo turno das eleições presidenciais.
A PF na Bahia, no entanto, não participou da ação e Torres recebeu um “não” da Superintendência.
Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador da Bahia Jerônimo Rodrigues (PT-BA), os delegados responsáveis pela não anuência da ação no estado foram promovidos dentro da corporação, agora chefiada por Andrei Rodrigues, que foi segurança de Lula durante a campanha presidencial.
Leandro Almada foi nomeado superintendente da PF no Rio de Janeiro, considerada uma das mais estratégicas da PF. Ela é responsável, por exemplo, pelo caso Marielle Franco, e a cúpula da PF e o ministro Flávio Dino queriam alguém de confiança. Crimes de tráfico internacional de armas também são prioridade da PF no Rio.
O delegado Flávio Albergaria virou superintendente da PF na Bahia, estado onde houve a tentativa de impedir eleitores de Lula de votar, segundo as investigações. O delegado assumiu o posto em janeiro.
Já o delegado Marcelo Werner se licenciou do cargo de delegado e foi nomeado pelo governador do PT como secretário de Segurança Pública do estado.
“Quando o ministro Torres veio para cá, eu era delegado de Combate ao Crime Organizado no estado e eu participava, junto da cúpula, das ações e planejamentos das operações, e a gente, como teria que ser, lógico, recebemos a autoridade máxima do Ministério da Justiça e fizemos as ações que tinham que ser realizadas a título de planejamento, que já estavam prontas dentro do nosso planejamento das operações das eleições”, contou o delegado em entrevista ao podcast PodZé, no mês passado, já como secretário.
Viagem investigada
A viagem do então ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) foi após ele obter um documento feito pela Diretoria de Inteligência do MJ mostrando em quais cidades Lula teve mais votos no primeiro turno.
A Bahia tem 11.291.528 milhões de eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e por lá o candidato petista teve 69,49% dos votos válidos no primeiro turno.
Para os investigadores da PF, que apuram essa viagem de Torres e suas consequências, o documento elaborado pela delegada Marília Alencar, então diretora de inteligência, serviu para que o ex-ministro colocasse em prática o plano para atrapalhar a votação e autorizou a operação da PRF.
Em 30 de outubro, eleitores de municípios do Nordeste — onde Lula teve mais votos do que Jair Bolsonaro (PL) — usaram as redes sociais para denunciar ações da PRF, nas estradas da região, para retardar o trânsito rumo às zonas de votação.
Nesta segunda-feira (8), às 14h30, Anderson Torres prestará depoimento à Polícia Federal em Brasília sobre essa viagem e as operações da PRF no Nordeste.
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