O guia definitivo do Halloween para católicos (não, não é compatível)
Das origens (fascinantes) dessa popular festividade, passando pela sua ruptura prática com a fé cristã até chegar à alternativa católica segura: o "Holywins"
Todos os anos, no final de outubro, ressurge em diversos ambientes católicos o debate sobre a compatibilidade ou não entre afé cristãe o “Dia das Bruxas”, cada vez mais conhecido no Brasil pelo nome importado: “Halloween”.
A resposta para esse falso dilema se torna clara quando se levam em conta os fatos históricos e objetivos ligados ao surgimento, desenvolvimento, situação atual e conexões culturais dessa festividade folclórica (diga-se de passagem, aliás, a desconsideração dos fatos históricos e objetivos impede respostas claras seja qual for o assunto).
É com base nos fatos, portanto, que podemos concluir de modo equilibrado que o Halloween pode até ter tido alguma relação de compatibilidade com a fé cristã nos seus inícios, mas esta não é mais a realidade dessa festividade há muito tempo.
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PARTE 1: As origens do Halloween
O Halloween foi surgindo ao longo do tempo como a mistura resultante de heranças pagãs do norte europeu com práticas medievais de piedade popular católica desenvolvidas em diferentes contextos, principalmente na Irlanda, na França e na Inglaterra, e levadas por comunidades imigrantes até os Estados Unidos, onde as atuais tradições de 31 de outubro se consolidaram e foram “exportadas” para dezenas de outros países.
O ELEMENTO PAGÃO
Os antigos celtas da Irlanda e da Grã-Bretanha comemoravam um festival pagão menor no último dia de cada mês. No caso do último dia de outubro, segundo alguns autores, seriam feitos sacrifícios ao deus da morte, Samhain, para propiciar um bom inverno (no hemisfério norte). Esta versão, no entanto, não é consenso entre os estudiosos.
O que se aceita mais comumente é que viria a ocorrer, sim, um sincretismo entre o festival pagão que costumava realizar-se no fim de outubro e a data cristã de Todos os Santos, que, aliás, está na raiz do próprio termo inglês “Halloween”: a palavra vem de “All Hallows’ Eve”, ou seja, “Véspera de Todos os Santos”.
O ELEMENTO CRISTÃO
A festa de Todos os Santos era antigamente comemorada em 13 de maio, mas o Papa Gregório III a mudou para 1º de novembro no século VIII – porque esse é o dia da dedicação da Capela de Todos os Santos na basílica vaticana de São Pedro. Alguns anos mais tarde, o Papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse observada em todos os lugares da cristandade. Foi assim que ela começou a ser celebrada na Irlanda, ainda influenciada por tradições pagãs celtas.
Passadas mais algumas décadas, o abade Santo Odilo, do poderoso mosteiro de Cluny, no sul da França, instituiu no ano de 998 uma nova celebração para o dia 2 de novembro: aquela passaria a ser uma jornada de oração pelas almas de todos os fiéis falecidos.
A Igreja passou então a ter duas datas especiais consecutivas dedicadas à lembrança dos que já partiram desta vida: uma, em 1º de novembro, para recordar todos os mortos que já estão nos céus (e que por isso mesmo são reconhecidos como santos); a outra, em 2 de novembro, para recordar também os mortos que ainda podem estar no purgatório.
E quanto aos mortos que foram para o inferno? A pergunta soa absurda, mas parece que os camponeses católicos irlandeses começaram a se questionar exatamente isso: por que ninguém se lembra das almas infelizes que estão no inferno?
DA IRLANDA: TRÊS DATAS PARA OS MORTOS
Povoados irlandeses começaram então a bater panelas pelas ruas na véspera de Todos os Santos – a já mencionada “All Hallows’ Eve”. A proposta era que as almas condenadas “soubessem” que não tinham sido esquecidas. Foi assim que, pelo menos na Irlanda, todos os mortos passaram a ser lembrados – muito embora o clero não avalizasse as celebrações populares da véspera de Todos os Santos porque, obviamente, não seria possível oficializar no calendário da Igreja um “Dia de Todos os Condenados”: não há como festejar a condenação de uma alma, nem como homenagear as almas que, consciente e voluntariamente, optaram por se afastar de Deus eternamente e, por conseguinte, se condenaram ao inferno.
Vale lembrar, aqui, que não é Deus quem as condena: Ele apenas respeita a tal ponto a liberdade de escolha do ser humano que, mesmo a Seu pesar, permite que uma alma decida rejeitá-lo de forma completa.
DA FRANÇA: AS “DANÇAS MACABRAS”
Os séculos XIV e XV foram marcados, na Europa, por repetidos surtos de peste bubônica, a famigerada “Peste Negra”. Com mortes massivas que chegaram a varrer o incrível número de mais de um terço da população do continente, cada vez mais missas eram rezadas no Dia de Finados. Nesse contexto, começaram a se popularizar na França as representações artísticas que hoje conhecemos como “Danças Macabras” ou “Danças da Morte“: comumente pintadas em muros de cemitérios, as cenas mostravam o diabo conduzindo uma fila de pessoas, incluindo papas, reis, damas, cavaleiros, monges, camponeses, leprosos, etc., para dentro do túmulo. Essa dança era às vezes apresentada teatralmente no Dia de Finados, com pessoas vestidas em trajes que representavam os vários estados de vida medievais.
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