Na estreia de Dorival Júnior, Endrick marca um gol repleto de simbolismos para o Brasil vencer a Inglaterra
Foi difícil para Endrick controlar a emoção e manter o foco nos poucos minutos finais de jogo que mais pareciam uma eternidade na noite gelada deste sábado (23) em Londres. Tão difícil, que o garoto de 17 anos e 245 dias se ajoelhou em campo e assim ficou por um bom tempo de olhos fechados. Incrédulo com o que acabava de viver no gramado sagrado de Wembley.
O atacante entrou aos 24 do segundo tempo no lugar de Rodrygo, seu futuro companheiro de Real Madrid. Dez minutos mais tarde, ele aproveitava um rebote de Vinicius Jr, outro que em breve será seu colega merengue, para marcar o seu primeiro gol com a camisa da Seleção. Foi o da vitória por 1 a 0 sobre a Inglaterra na estreia de Dorival Júnior como técnico. Mas dizer apenas isso – que já é um tanto – soa raso diante do simbolismo que este gol tão emblemático carrega.
“Sei muito do que passei. Algumas pessoas falavam que eu não seria ninguém. Claro que não sou melhor do que ninguém, mas tirei isso da minha cabeça. Concentrei. Falei que ia ser uma pessoa melhor para a minha família, para o meu irmão. Eu sou muito apegado a Deus. E ali no final, só soube agradecer a Deus. Até estava falando com Deus, eu não conseguia falar nada. Eu só clamava o nome Dele. Foi isso que fiz. Quando fiz o gol, atrapalhou porque fiquei só pensando naquilo e pequei um pouco no final. Mas creio que é normal”. (Endrick)
De uma só vez, Endrick se tornou o jogador masculino mais novo na história a marcar em Wembley, o berço do futebol mundial, o atleta mais jovem a balançar as redes pela seleção brasileira desde Ronaldo, em 1994, e o quarto em geral (confira a lista abaixo). As marcas não param por aí. A Inglaterra não perdia em Wembley desde 14 de outubro de 2020. Na ocasião, Eriksen marcou o gol da vitória da Dinamarca em partida válida pela Uefa Nations League. Os ingleses também estavam invictos desde a eliminação para a França na Copa do Mundo de 2022, no Catar. Tudo isso, no mesmo dia 23 de março em que 30 anos atrás o Fenômeno balançava as redes pela primeira vez com a camisa verde e amarela.
Endrick encanta ingleses (e o mundo)
A verdade é que Endrick já atraía olhares no lendário Estádio de Wembley bem antes de marcar este gol tão histórico. Muitos dos milhares de ingleses que ocuparam os assentos vermelhos estavam curiosos para ver de perto o “wonderkid” brasileiro. A Trivela conversou com torcedores britânicos que se diziam ansiosos com a chance de observar o garoto que atraiu o Real Madrid em ação. Além disso, a revista do programa oficial da partida trazia uma reportagem especial sobre o atacante do Palmeiras.
Em campo, o atacante correspondeu à expectativa. Teve a personalidade de tentar um toque de letra e fintas contra os adversários. Marcou o gol da vitória e só não fez mais um pela euforia do primeiro – acabou parando em Pickford em chance cara a cara já nos acréscimos do segundo tempo. Não à toa, Dorival rasgou elogios ao pupilo, e até mesmo Gareth Southgate elogiou Endrick depois da partida.
— O tempo vai mostrar quem será esse garoto. Se ele não mudar essa postura, com certeza será um nome importante do futebol brasileiro e mundial. Temos que ter tranquilidade, ele ainda é jovem, mas está acelerando sua formação. Um atacante que já apresenta características diferentes. Torço para ele não mudar essa forma dele ser. Tem uma base familiar que dá uma sustentação importante. O Palmeiras também trabalha nesse sentido. Podem esperar que (Endrick) vai ser uma das grandes sensações – afirma Dorival.
– Sabemos que ele é um jogador perigoso. Entrou querendo fazer gol e nós deveríamos ter defendido o gol melhor do que fizemos. Ele aproveitou o lance em um rebote e foi um momento brilhante para ele – admitiu Southgate.
É natural que Endrick tenha atraído todos os holofotes depois da partida. Assim que o atacante passou pela zona mista de Webley, o seu nome foi clamado por todos os jornalistas ali presentes. Savinho, que estava ao seu lado, chegou a brincar e pedir para que chamassem ainda mais alto pelo companheiro. O autor do gol voltou para o vestiário e depois foi o mais requisitado para entrevistas. Atendeu um a um e respondeu a todas as perguntas antes de seguir para o ônibus.
Irmão “previu” primeiro gol
O roteiro do gol marcado em Wembley é de um lance de quem parece predestinado. E de fato, ele foi. Direto do Brasil – e trajado com o uniforme azul da Seleção –, o irmão mais novo de Endrick gravou um vídeo em que pediu para o atacante marcar contra a Inglaterra.
– Meu irmão, hoje cedo estava com a camisa azul da Seleção. Pediu para eu fazer o gol e não está aqui. Fico feliz de estar aqui e ter uma família maravilhosa – disse Endrick.
Endrick é fã de Bobby Charlton. E isso diz muito
Ao longo das muitas entrevistas que concedeu, Endrick mostrou que, mesmo garoto, já sabe bem o peso do feito deste sábado em Wembley. O atacante revelou que é fã de sir Bobby Charlton, lendário atacante do Manchester United e da seleção inglesa, campeão da Copa do Mundo de 1966 ali mesmo naquele estádio. Tudo começou com uma pesquisa sobre Ferenc Puskás. Depois, o brasileiro começou a usar Charlton em seu time no vídeo game.
– Eu sempre via algumas coisas do passado. Fui procurar um pouco do Puskàs e pude ver ele. E depois que ele foi lançado no Fifa, a primeira coisa que fiz foi comprar ele para o meu time. Depois, fui procurar um pouco mais a história dele. Infelizmente ele faleceu. Eu fico lisonjeado de jogar nesse estádio, onde ele é ídolo e pôde fazer gol – disse Endrick.
Por Trivela
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