Ronaldo e Pedrinho BH, antigo e novo proprietário do Cruzeiro, estiveram ao lado do CEO Gabriel Lima em coletiva realizada nesta segunda (29), na Toca 2
É oficial! O Cruzeiro deixa de pertencer ao ex-jogador e hoje empresário Ronaldo Nazário, o Fenômeno, após ser comprado por Pedro Lourenço, o Pedrinho BH, dono da rede Supermercados BH, quinta maior do ramo no país. O antigo e o novo proprietário da SAF celeste estiveram ao lado do CEO Gabriel Lima em entrevista coletiva, realizada na noite desta segunda-feira (29), na Toca da Raposa 2.
A coletiva começou com um pronunciamento de cada um dos presentes. Gabriel Lima foi quem teve a incumbência de oficializar o acordo de venda, mas ressaltou que, por cláusulas de confidencialidade, valores não seriam divulgados. Em seguida, foi a vez de Ronaldo falar. O Fenômeno afirmou que passa por um misto de sentimentos, mas que se sobressai o de dever cumprido e tranquilidade de entregar o controle dos clubes nas mãos de Pedro Lourenço numa situação muito melhor do que quando o encontrou.
Já Pedrinho BH, por sua vez, elogiou e agradeceu a gestão de Ronaldo e sua equipe, exaltando a melhora na estrutura do clube desde a chegada da SAF celeste. O novo dono do Cruzeiro revelou, ainda, que Gabriel Lima e sua equipe, seguirão na Toca da Raposa 2 normalmente, assim como Kin Saito, diretora do futebol feminino, um case de sucesso do período do Fenômeno no controle do time mineiro, e Fernando Seabra, treinador da equipe. De acordo com Lima, a ideia é fazer uma transição de gestões rápida e tranquila.
O dirigente ainda pediu desculpas em nome do torcedor do Cruzeiro a Ronaldo pelo bandeirão com a imagem do ex-jogador que foi queimado.
— Eu peço até desculpas em nome da torcida do Cruzeiro. O que fizeram com o Ronaldo não é justo. Não é merecedor de queimar a bandeira. Vou pedir ao torcedor que não faça isso. O Ronaldo colocou o nome dele no negócio, ficou triste e muito chateado com a situação. Espero que amanhã não seja comigo, mas no futebol tudo pode acontecer — defendeu Pedrinho.
O Fenômeno também classificou as críticas como exageradas, mas no fim, afirmou que isso não o afetava, por entender que a maioria dos cruzeirenses sentia gratidão por ele.
— Talvez uma pequena parte tenha exagerado comigo, mas é irrelevante para mim, pois sei que a grande maioria do torcedor cruzeirense é grato a mim e à minha equipe por ter colocado o Cruzeiro novamente no cenário nacional e internacional — declarou o Fenômeno.
Novo diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos também “quebrou protocolos” ao pedir a palavra para defender Ronaldo. O dirigente ressaltou que a contribuição de R9 com o clube é gigante, tanto como jogador, como em sua venda nos anos 90, que impulsionaram grandes conquistas, e atualmente, com a reestruturação celeste.
— A venda do Ronaldo fez o Cruzeiro mudar o patamar. E agora, sinceramente, vou falar para vocês: o Cruzeiro mudou a imagem em uma velocidade impressionante. O Cruzeiro se reorganizou e se reestruturou de maneira impressionante. Então vai aqui, se é que eu posso fazer um pedido para o torcedor do Cruzeiro: respeitem esse cara. Qualquer título, qualquer alegria que vier, passa pelo que ele fez aqui. Foi fundamental mais uma vez. Ganhar no futebol é muito duro. O que eles fizeram em 2 anos e meio foi de excelência — argumentou Mattos.
A venda e o futuro do Cruzeiro
Ronaldo contou que a ideia de vender o clube para o Pedrinho sempre existiu. Contou que no primeiro perrengue financeiro, Lourenço já estendeu a mão. Segundo o Fenômeno, este é o momento de impulsionar o Cruzeiro. Para ele, o time está muito perto de brigar por coisas grandes, como o torcedor quer. E que o empresário pode acelerar esse processo com maiores investimentos.
— Quando eu cheguei, só pra fazer uma metáfora, quando eu peguei o Cruzeiro estava na UTI. Depois de reduzir a dívida quase que pela metade, quintuplicar o faturamento do clube e conseguir os principais objetivos desportivos que a gente se propôs, eu diria que eu tô deixando o Cruzeiro confortavelmente no quarto do hospital — disse o Fenômeno.
Sobre a atuação do novo departamento de futebol do Cruzeiro, Pedro Lourenço explicou que a ideia é manter o planejamento que já vem sendo executado no clube, com um aumento no teto de investimentos para o futebol. Ou seja, querem que a Raposa gaste mais sem gastar demais.
— O que nós temos que fazer é reforçar o time. Tem que ter pra melhorar o nível. Como o Ronaldo melhorou do ano passado pra esse ano. A gente tava praticamente com o título garantido que escapou. Os pontuais para reforçar o time e não passar o sufoco do ano passado. É serviço do Alexandre, que já tá ali. E vamos ver coisas boas no campeonato. E o Cruzeiro vem trabalhando para melhorar na abertura da janela — afirmou o novo dono da SAF do Cruzeiro.
Gabriel Lima tratou de reforçar essa ideia de Pedrinho, afirmando que as coisas não acontecerão em um passe de mágica e que toda a estrutura construída nos últimos anos será respeitada.
— Significa que ainda requer cuidados. É bastante importante que a gente tenha plena consciência que o passivo do Cruzeiro está estruturado, as obrigações estão sendo cumpridas, mas temos um longo caminho pela frente ainda. Não é porque o Pedrinho passa a ser o proprietário, que num passe mágica, tudo vai se resolver. A gente vai continuar com controle orçamentário, rigidez financeira, cumprir com as nossas obrigações. Obviamente com uma facilidade a mais, mas que é bem importante, que existe um plano a ser cumprido — ponderou o CEO.
Pedro Lourenço afirmou, em certa altura, que apesar de valorizar o trabalho que vinha sendo feito, pensa em mudar alguns aspectos, e fez uma chamada para um crescimento no programa de sócio-torcedor.
— Eu acho que a gente tem que se comunicar mais com o torcedor. E dar liberdade. Sou muito de conversar com os jornalistas, mas também se não for do meu agrado, eu falo na hora. Acho que quem manda, quem é dono, é a torcida. Eu conto com o torcedor. Temos que dobrar esse sócio, fazer esse aporte, eles têm que ajudar a pagar e vai ajudar — afirmou Pedrinho.
Ronaldo seguirá ajudando o Cruzeiro
Ronaldo foi questionado se a negociação para a compra do meia Matheus Pereira, já encaminhada, seria seu último ato pelo clube, mas ele se colocou à disposição para ajudar sempre que Pedrinho quiser. Ele ressaltou a ligação forte que criou com o time, dizendo que será eternamente um cruzeirense.
Apesar da declaração, Ronaldo afirmou o desejo de também vender o Valladolid, seu clube na Espanha, e tirar “um resto de vida sabático”. Posteriormente, revelou que deseja seguir trabalhando na indústria do futebol, mas de uma forma mais tranquila. Ele também assumiu erros, mas disse acreditar que acertou muito mais que falhou.
— Cometemos muitos erros, mas superamos como se fosse uma goleada nos acertos que tivemos em relação aos erros. Muitos erros na área do futebol, onde a gente não controla o resultado e, de repente, por uma falha ou desentendimento, ou resultado, todo o processo é julgado como se nada prestasse. Vivemos essa pressão por muitas semanas. O exercício é que erramos, mas não está um desastre — argumentou.
Aporte de R$ 350 milhões
Ronaldo ainda foi questionado sobre os aportes de responsabilidade de sua holding acordados no contrato de compra do Cruzeiro, em 2022. O ex-jogador acertou o negócio por R$ 400 milhões, entrando com R$ 50 milhões no ato da compra, e podendo complementar o valor de forma direta ou com receitas incrementais. Além disso, foi perguntado sobre “quanto levou”, no sentido de lucro, com a venda para Pedrinho. Gabriel Lima voltou a dizer que não iriam falar de valores e o Fenômeno, que se irritou com a pergunta, rebateu de forma ácida.
— Eu adoraria te responder isso. Mas realmente, não pode. Até porque, vejo alguma maneira de desqualificar o trabalho que foi feito. Como você pode valorizar o trabalho que eu fiz? Como você quantifica ter vencido a Série B depois de dois anos, com um orçamento de 40 milhões pro futebol? Aí tem que ver os gênios da matemática para quantificar isso também. Como você quantifica quintuplicar o faturamento de um clube a beira da falência? É muito fácil falar de números, ver um lucro financeiro, quando o trabalho não é reconhecido. Quanto vale a coragem que eu tive de pegar o Cruzeiro na segunda divisão com uma dívida de 1 bilhão e 200 milhões de reais. Eu fui o último a ser oferecido esse negócio, que pra mim foi uma oportunidade além da minha irresponsabilidade, eu só via potencial, porque o Cruzeiro é grande demais. Portanto, é bom todo mundo começar a pensar quanto pode valer cada coisa — declarou o Fenômeno.
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