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24.10.23

Torcedoras do Cruzeiro denunciam tratamento na Arena MRV e preparam ação judicial contra o Atlético-MG

 A torcida celeste que compareceu ao clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro apontou situações degradantes, discriminatórias e perigosas na Arena MRV

O Cruzeiro venceu o Atlético-MG no primeiro clássico disputado entre as equipes na Arena MRV, novo estádio alvinegro. O gol da partida, disputada nesse domingo (22), marcado por Jemerson, contra, aos 42 minutos do segundo tempo, fez com que o time celeste respirasse na tabela do Brasileirão, afastando a equipe da zona de rebaixamento. Apesar de se tratar de um dérbi histórico, o assunto mais tratado após o fim do jogo não foi o triunfo estrelado, mas o tratamento recebido pela torcida cruzeirense na casa do rival.

Ainda antes do apito inicial, torcedores cruzeirenses já denunciavam algumas situações abusivas e humilhantes as quais estavam sendo submetidos, sendo elas:

  • As portas das cabines dos banheiros masculinos e femininos foram retiradas;
  • Não havia papel higiênico ou sabonete nos banheiros;
  • Não foram vendidas bebidas alcoólicas; a cerveja era sem álcool;
  • Não havia bebedouros na arena e a água estava sendo vendida completamente congelada;
  • A água vendida nos bares acabou durante o jogo;
  • A presença de muitos seguranças de frente a torcida encobria a visão de parte do campo;
  • A instalação da tela de proteção e de um tapume prejudicou a visão da partida.

Torcedoras entrarão com ação judicial

Esses acontecimentos geraram revolta na torcida visitante presente, em especial nas mulheres, que sem portas nas cabines de seus banheiros, tiveram que expor seus corpos num contexto “degradante”, como elas próprias definiram. Por isso, um grupo de cruzeirenses se organiza para acionar o Atlético-MG e a Arena MRV judicialmente, pela forma como foram tratadas.

O advogado Bruno Tedeschi, da Tedeschi Sociedade de Advogados, já trabalha nas ações. Segundo ele, serão individuais e ele já criou a tese, estando, no momento, aguardando o envio de documentos.

— Pelas circunstâncias no tratamento ofertado à torcida visitante, eu compreendo possível o ajuizamento de uma ação reparatória de danos morais. Verifico que o organizador de um evento esportivo tem o dever de garantir segurança, instalações sanitárias próprias, condições de higiene e tratamento igualitário aos frequentadores, respondendo judicialmente se não o fizer, como foi o caso — explicou Tedeschi.

Anna Miranda, 23 anos, back office de vendas, esteve na torcida do Cruzeiro durante o jogo de domingo. Segundo ela, a situação em que as cruzeirenses foram submetidas foi “totalmente insalubre”.

— Não tinha papel para se limpar e nem para secar as mãos, sabonete para lavar as mãos muito menos, lixeira fora de cogitação. Também não tinha bebedouro e a água que era paga acabou diversas vezes. A gente se sente tratada como tudo, menos como ser humano. Pagamos caro no ingresso para não termos nem dignidade. Me senti extremamente humilhada. Nunca passei por um constrangimento como esse em nenhum estádio que já visitei em Minas ou fora do estado. Independente da rivalidade, o respeito sempre deve ser mantido — desabafou Anna.

 

Ela é uma das torcedoras do Cruzeiro que acionará Atlético-MG e Arena MRV judicialmente. A jovem contou como se deu esse processo.

— Um amigo me procurou hoje (23) pela manhã, dizendo que ele e um advogado vão mover um processo contra o Atlético-MG e a Arena MRV devido à forma em que fomos tratados no estádio ontem. Estamos juntando um número considerável de torcedores presentes no estádio para abrirmos o processo e, assim, tentar alguma coisa a nosso favor, para que não aconteça novamente em outros jogos — explicou Miranda.

Mariana Ladislau, dentista de 25 anos, reclamou também dos preços praticados pelo Atlético-MG no estádio. Um copo pequeno de água, por exemplo, custou R$ 6.

— Os preços eram absurdos para uma comida de pouca qualidade. A água era vendida a R$ 6 e ela acabou rapidamente. Quando foi reposta, veio congelada — contou.

 

Prática difere do discurso

Anna ainda questionou a campanha do Outubro Rosa, feita pelo Atlético-MG, que teve ações antes e durante o clássico, incluindo na camisa atleticana, que teve a numeração da cor rosa. Para ela, a sensação que ficou foi de hipocrisia.

— É um time que em rede social preza pela “segurança” e presença de mulher no estádio, faz campanha de Outubro Rosa, mas, na prática, nos trata de uma forma completamente diferente. Na teoria é tudo muito lindo, mas não se coloca uma mulher para fazer suas necessidades de porta aberta, independente do time que torce. O risco de infecção é alto, a privacidade é zero, não utilizamos o banheiro em pé e de costas igual homem. O que também não é motivo para fazerem. O banheiro masculino também estava sem portas — apontou a jovem.

O Atlético-MG coloriu os números de rosa em alusão ao Outubro Rosa mas, para Anna Miranda, discurso não refletiu a prática
O Atlético-MG coloriu os números de rosa em alusão ao Outubro Rosa, mas, para Anna Miranda, discurso não refletiu a prática – Foto: Fernando Moreno/Icon Sport

Homem no banheiro feminino

Joana Silveira Aguiar, técnica em segurança do trabalho, de 27 anos, relatou uma situação envolvendo um homem, que entrou no banheiro feminino durante a partida.

— Ontem, logo que finalizou o primeiro tempo do jogo, fui ao banheiro. No mesmo momento em que entrei, veio um homem logo atrás, entrando também. A vigilante que estava na porta, não o viu entrar e tinha uma menina utilizando a primeira cabine. Não tinha reparado que estava sem a porta. Logo que reparamos, a menina gritou e a vigilante foi lá e retirou o cara do banheiro. Com isso, todas as outras meninas que entraram, incluindo eu, fomos procurar pelos últimos banheiros para utilizarmos, para não ter que ficar “pagando calcinha” para nenhuma outra mulher. Até porque, ninguém é obrigado a passar por essa vergonha na frente de outras pessoas, mesmo elas sendo desconhecidas — apontou Joana.

Funcionárias da Arena MRV ficaram indignadas

Danielle Carmen Hott, servidora pública do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), de 46 anos, também esteve no clássico. Ela contou que em nenhum momento foi disponibilizada a venda de bebidas alcóolicas para a torcida do Cruzeiro, o que pegou os presentes de surpresa. Ela contou, ainda, que as próprias funcionárias da Arena MRV se indignaram com a situação dos banheiros.

— No banheiro não tinha portas, papel higiênico ou sabonete. Perguntei para duas funcionárias da arena elas sabiam o porquê daquilo ali. Elas, que estavam indignadas também, disseram que não tinham ciência e que estavam envergonhadas — contou Danielle.

A servidora pública desabafou sobre as condições encontradas pelos cruzeirenses na Arena MRV.

— Como se já não bastasse a rede que colocaram na frente da torcida e do tapume, que nos atrapalharam a ver o jogo, a barreira de seguranças ficou na frente dos vidros e taparam a visão. Sem contar que o próprio estádio, em si, já tem pontos cegos. Não tinha como ver os lances. A bola no travessão eu só vi quando cheguei em casa. Eu fui desrespeitada ali. Previamente deduziram que todos nós seríamos vândalos. O ingresso foi muito caro. Eu não esperava flores, mas um tratamento digno — lamentou.

— O estatuto do torcedor me dá o direito de ser tratada como ser humano, com respeito, principalmente sendo uma mulher. Me senti desrespeitada, todas as mulheres estavam extremamente desconfortáveis em fazer nossas necessidades com um monte de gente passando — continuou Hott.

Torcedores do Cruzeiro tiveram que ver a partida por detrás de uma tela; um tapume e diversos seguranças também atrapalhavam a visão na Arena MRV
Torcedores do Cruzeiro tiveram que ver a partida por detrás de uma tela; um tapume e diversos seguranças também atrapalhavam a visão – Foto: Dudu Macedo/Icon Sport

Atitude discriminatória

Danielle apontou, ainda, uma situação que enxergou como desrespeitosa, partindo de um dos funcionários da Arena MRV.

— A gente era proibido de ir para as cadeiras com líquidos, mas um dos seguranças olhou para mim e disse que eu não tinha cara de vândala e que eu podia passar. Eu achei isso um desrespeito com quem não pôde passar. Eles impediram pessoas próximas assim. Eu pretendo, sim, processar o estádio, o clube mandante, por tudo que eu passei — contou a torcedora do Cruzeiro.

Atlético-MG alega que medidas foram tomadas para coibir depredação

Ainda durante a partida, o Atlético-MG emitiu nota oficial afirmando que “foram adotadas com base no monitoramento das forças de inteligência, que apontaram possíveis riscos de atos de vandalismo e depredação do patrimônio”, apontando uma suposição da possibilidade de danos materiais em detrimento da dignidade humana. Veja a nota atleticana:

Prezados, sobre as reclamações dos torcedores do Cruzeiro na Arena MRV, o Atlético esclarece que:

Atendendo solicitação do Cruzeiro, acrescido à ata da reunião realizada na FMF, o Atlético reforçou a segurança do setor destinado à torcida visitante, a fim de impedir ação de eventuais danos causados por torcedores naquele local.

As medidas de proibição de venda de bebida alcoólica e retirada de itens dos banheiros foram adotadas com base no monitoramento das forças de inteligência, que apontaram possíveis riscos de atos de vandalismo e depredação do patrimônio.

Nesta segunda-feira (23), Bruno Muzzi, CEO da Arena MRV, assumiu o erro em entrevista ao O Tempo Sports.

— Erramos. Eu assumo. Foi um erro nosso ter tirado as portas dos banheiros femininos — disse Muzzi.

“Atitude infeliz”

Para Anna Miranda, as justificativas não se sustentam. A jovem ressaltou que com a hostilidade vinda do Atlético-MG, o clima de insegurança na Arena MRV ficou ainda maior.

— Acredito que tirar a privacidade de uma pessoa a deixa muito mais insegura do que qualquer outra atitude, no meu ponto de vista foi extremamente desnecessário a retirada das portas, do bebedouro, do papel que é algo extremamente inofensivo, quem iria levar uma chave de fenda para retirar uma porta de banheiro? Foi uma atitude infeliz, isso sim — apontou.

Cruzeiro se manifesta

O Cruzeiro, em publicação em suas redes sociais, que irá notificar “oficialmente todas as esferas e órgãos públicos para que tomem ciência dos fatos ocorridos”. O clube mineiro incentivou, ainda, que os “torcedores, ora consumidores na Arena MRV, e que se sentiram lesados na forma do Código de Defesa do Consumidor, procurarem os seus direitos junto ao Poder Judiciário e ao Procon-MG”.

Veja a nota na íntegra:

 

Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, apareceu revoltado ao final do jogo. Apesar de não citar nomes, deu a entender que estava se referindo a dirigentes atleticanos. André Lamounier, diretor de Comunicação do Atlético-MG, havia dado declaração na nos dias que antecederam a partida, chamando o clube celeste de “ex-rival”.

— Falaram muita m… antes do jogo. Tem que respeitar. Querem profissionalismo? Mas não estão preparados — Gabriel Lima, na zona mista, após o final da partida.

Por Trivela

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