Em jogo muito importante, Grêmio alcançou vitória contra o Estudiantes na Argentina, mesmo jogando com um a menos
Só me escutem. Renato, o ponta-direita do título de 1983, o treinador da Copa revista em 2017, a estátua e o sinônimo de Grêmio, entrou no campo ao apito final, abraçou primeiro Gustavo Nunes, 18, e feito a bola do gol carregou o menino até Nathan Fernandes, 19, para trazê-los a um afago de quem já tinha muito pôster em parede de Porto Alegre quando os atacantes nem haviam nascido. Só me escutem, ele pediu, ou intimou, com a picardia de sempre seja diante das câmeras, seja entre os seus, ou na mistura de ambas situações.
Quando vejo Renato sempre lembro do meu pai falando que o jogador de futebol que ele nunca imaginou que viraria o técnico que virou é exatamente Portaluppi. Não pela capacidade técnica, claro que não, ele foi muito fã das passadas daquele cavalo (palavras do velho) que alastrou o Hamburgo em Tóquio. Mas é que o cara era muito folgado, debochado e polêmico num nível que, diz o pai, foi curioso entender que ele teria perfil de viver futebol adentro, o dia-a-dia, a concentração, a dura rotina responsável de um treinador. Eu, que posso pesquisar, mas peguei ainda muito criança só o finalzinho da carreira do Gaúcho, ouço os mais velhos.
São agora 51 vitórias comandando um vestiário em Copa Libertadores, recordista absoluto entre os brasileiros, num placar magro muito marcante em La Plata, pelo risco e pela assinatura. Com um jogador a menos, uma derrota para o Estudiantes deixaria a situação tricolor muito difícil, com nenhum ponto em meia fase de grupos; Renato respondeu ao vermelho colocando dois meninos para ir à frente e, com a estrela do tamanho do mundo, viu os dois garantirem o 1 a 0 numa espetada de fôlego, técnica e esperteza de seu comandante.
O Grêmio vinha jogando bem até o bote errado que valeu o segundo amarelo para o bom Villasanti. Cristaldo chegou na área, Soteldo achou boas jogadas e JP Galvão, se não é o centroavante dos sonhos de quem até outro dia sorria para Suárez, participou legal. Para os padrões de jogos brasileiros contra campeões na Argentina, o quadro gaúcho procurava o gol, claro que tocado pela necessidade de sair do zero na tabela, mas também porque tem qualidade e achou caminho para ganhar fora. É claro que com um a menos a casa tende a cair, mas a dupla de novidades caprichou na execução. Tapa na medida de um, arrancada com finta no tempo certo do outro e pique para concluir na área, sem ferir a linha do passe. Gol grande, do tamanho da vitória.
A expulsão foi aos 21, a mudança dos três meias aos 26, o gol aos 30 minutos do segundo tempo. Tempo o bastante para cronistas, torcedores, secadores e tuiteiros do Rio Grande decretarem o fim de um novo sonho copeiro até o time renascer e se segurar com competência e uma boa dose de sorte em forma de linha de impedimento num empate que não veio por um fio. Tem jeito melhor do que ganhar, à beira da eliminação, com gol de moleque num contra-ataque na Argentina jogando com dez? Difícil. Do cantinho do Estádio Jorge Luis Hirschi ou de casa, não se esquecerá tão cedo.
Só me escutem. Nas 51 vitórias do campeão pelo Grêmio, vice por Fluminense e Flamengo, e habitué de seu torneio favorito, haverá de caber um espaço para a noite que não havia Pavón, nem Diego Costa na frente, que Geromel se machucou no começo, que Villasanti viu o chuveiro mais cedo e que o gol improvável saiu com dois meninos cujas idades, somadas, ainda não dão nas quatro décadas dos gols de Renato de 1983. Um jogo ao gosto do treinador — aguerrido, mas sempre técnico, prometendo uma tabela de gol. Que sigam escutando.
Por Trivela
0 commentarios:
Postar um comentário