Yoon Suk-yeol suspendeu liberdades políticas acusando rivais de travar o país no Parlamento
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, decretou lei marcial nesta terça (3), pegando o país de surpresa em meio a uma grave disputa com a oposição, que denunciou a ação como uma tentativa de golpe de Estado.
Atividades políticas e liberdades civis estão banidas, a imprensa foi censurada e militares tomaram as ruas de Seul e invadiram a Assembleia Nacional. É a primeira vez que isso ocorre no país asiático desde o golpe militar de 1980, um dos vários da história sul-coreana.
“Eu declaro lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas da Coreia do Norte, para erradicar as desprezíveis forças antiestatais pró-Coreia do Norte que estão pilhando a liberdade e a felicidade do nosso povo, e para proteger a ordem constitucional”, disse Yoon.
A oposição disse que não reconhece a medida. Até aliados de Yoon, como o líder de seu partido, Han Dong-hoon, criticaram a ação. Ele disse que a lei marcial não deve ser respeitada porque é uma decisão “errada”.
Imagens em redes sociais mostravam grupos de pessoas na frente do Parlamento, fechado por soldados, e tropas tentando tomar o plenário do edifício. Houve confrontos, e blindados e helicópteros foram empregados pelos militares.
Segundo o Comando de Lei Marcial, instituído por Yoon, liberdades civis estão restritas. Todos que desrespeitaram regras poderão ser presos, segundo divulgou o Exército, e a as atividades políticas de partidos dentro e fora do Parlamento estão proibidas por ora.
O comitê diz ter colocado a usualmente vibrante imprensa do país sob seu controle, mas não está claro como isso será imposto até aqui.
Lei marcial geralmente é evocada em tempos de guerra, como na Ucrânia. Nela, poderes discricionários são passados para as Forças Armadas, com ou sem controle civil delas -no Brasil não há tal instrumento na Constituição. A rigor, Seul está num conflito congelado com Pyongyang desde o armistício que pôs fim a três anos de combate em 1953.
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Yoon, do conservador Partido do Poder do Povo, tem enfrentado resistência do Congresso, que é controlado pelos liberais do Partido Democrático -a agremiação oposicionista soma 170 dos 190 assentos contrários ao governo, que tem 108 deputados.
A mais recente querela é sobre o orçamento do ano que vem, que adversários dizem ser uma cortina de fumaça para tirar foco de escândalos envolvendo aliados e até mesmo sua mulher, criticada por aceitar uma bolsa de luxo e acusada de manipular o mercado de ações.
O líder da oposição, Lee Jae-myung, afirmou que a lei marcial é inconstitucional. Ele convocou uma reunião de emergência no Parlamento com membros de seu partido, mas foi barrado na porta por soldados, segundo a mídia local.
A gravidade da crise, apesar das contínuas rusgas entre governo e oposição, não era esperada desta forma. A política sul-coreana sempre contrastou com sua pujança econômica, sendo um campo minado de disputas.
Desde que foi criado em 1948, o país foi governado por uma ditadura militar e líderes autocráticos até 1987, quando começou a transição para a democracia liberal que ganhou corpo pleno apenas em 2002.
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